um texto sobre plantas
ninguém conhece melhor as nossas preferências que as árvores que cresceram conosco, cada árvore sabe quanto deu a cada um de seus frutos.
O sossego das plantas tem me ensinado muito. Acho que nunca aprendi tanto quanto nesse período que vos falo e como Luedji Luna, eu quero ser uma árvore bonita.
Mangueiras, amendoeiras, palmeiras, cajazeiras, todas essas fazem parte da minha vida desde a infância. Moro num quintal-floresta e quando tudo parece cinza, só preciso abrir a janela da sala pra viver o verde que dá esperança, renova e dança com os vendavais.
Lembro-me de tentar subir no pé de cajá com meu irmão e nunca conseguir por puro e único medo, mas sempre comia o cajá verde com um tico de sal que ele pegava para mim. Subia nas mangueiras para descansar junto a elas e quando chegava na época de colher o fruto, o quintal era pintado por mangas amarelas e verdes que pareciam cair do céu. Havia também a amendoeira principal do bairro que, por sorte, ficava bem em frente ao meu portão. Que formidável era sua sombra. Costumava cobrir as duas calçadas e o banquinho de madeira do ponto de ônibus inteiro. De vez em quando caíam algumas amêndoas em nossas cabeças, o que nos causava boas risadas. Lembro-me também de pedir à mãe que me concedesse as honras de pedir ao motorista da van que me deixasse em frente a amendoeira e ele, antes mesmo de enxergar a árvore, sabia exatamente aonde me deixar. Um tempo depois, já sem a permissão da minha mãe, comecei a pedir para me deixarem na antiga amendoeira. Cortaram a árvore. Venderam o espaço para abrir uma barbearia típica do homem moderno. Com sinuca, barba feita e a decoração de uma churrascaria. Padrão. Junto com essa, outras que faziam parte de mim foram ceifadas. Sobrou algumas pela região, já quase não há sombra quando vem o sol.
Hoje, presto muito mais atenção nelas que naquela época. Enquanto o milagre da arborização urbana não chega, trato de me colocar em meu lugar de apreciadora e amiga. Cada uma delas têm a sua própria linguagem e quando o vento vem, elas traduzem no silêncio tudo o que nós, seres humanos devemos ser e criar. A criação chega por meio da observação e do sentir o silêncio, apreciar de onde ele vem e saber quando é necessário só sentir. Apenas ter atenção para identificar quando os ventos vêm do Norte ou do Sul, se é frescor ou vendaval. Inclusive, descobrir que esse momento silencioso tem som e textura e é muito novo. As árvores me ensinam tudo sobre ação e reação. Através delas, descobri a cura. Com seus banhos, suas bebidas, seus cheiros, reencontrei Deus.
A Geovana de vinte e dois anos, prefere chá à café.
De: Vana